29 de out. de 2007

A navalha de Occan

William de Ockham (Occam é a grafia latina), teólogo inglês do começo do século quatorze, é hoje, na melhor das hipóteses, um ilustre desconhecido. Comparados com ele, Tomás de Aquino e Duns Scotus são superstars e, no entanto, os pensamentos de Occam moldaram a ciência moderna.
A chamada "navalha de Occam", foi um instrumento lógico que ele criou para despojar uma tese de seus ornamentos absurdos. A máxima de Occam era que, quanto mais simples uma explanação, melhor. A menos que seja necessário, não introduza complexidades ou suposições em um argumento. Não só o resultado será menos elegante e convincente, como também terá menos probabilidade de estar correto.


Uma das suposições que a navalha de Occam dispensou foi a da existência de Deus. Não que ele não acreditasse que Deus existe, é claro. Simplesmente, ele achava que você não poderia provar isso, porque para fazê-lo teria que recorrer a argumentos bastante complexos (e difíceis de acreditar). Desde essa época Ciência e Religião seguem caminhos distintos.


Mas o que observamos hoje é um retrocesso ao período do século quatorze. Muitas crenças modernas se auto intitulam de científicas. Algumas até usam, de maneira distorcida, a física quântica para fundamentar os seus fracos argumentos.


Fique claro que não sou contra nenhuma religião, aliás, as idéias de sobreviver à morte do corpo, viver eternamente ou retornar em outro corpo, até que me são bastantes simpáticas.


Penso que o religioso verdadeiro é uma alma valorosa , pois deixou de olhar apenas para si, abandonou o próprio egoísmo para se dedicar a algo maior do que ele próprio, muitas vezes praticando a tolerância e a caridade.


O que não concordo é com a tentativa de "cientifizar" algo que não pode ser verificado, e de usar a confiabilidade da ciência para promover uma crença ou superstição.


Em vez disso, seria melhor reforçar na mente humana a ídeia de liberdade. Mostrar ao indivíduo ,que ele não precisa acreditar em nada que não queira, nem na Ciência, se esse for o seu desejo.

" Nós cientistas também sabemos o quanto a realidade é muitas vezes cruel e desesperançosa e nos perguntamos se uma ilusão não seria mais consoladora."
Henry poincaré

O conselho de Einstein

Na década de 1930, Albert Einstein fixou residência nos EUA, indo trabalhar como chefe do departamento de estudos avançados da Princeton University. Nessa época, Einstein recebeu uma carta de um estudante europeu, dizendo que se sentia angustiado com o seu futuro incerto e não aguentava mais as pressões que recebia por parte de seus pais, professores, amigos, etc.
Eis a resposta de Einstein:

" Não leia jornais. Leias os escritores de tempos antigos, como Kant, Goethe, Lessing e outros, e você perceberá o quanto eles entendem mais da nossa época do que nós mesmos. Faça amizade com alguns animais e sempre que possível, tenha contato com a natureza. Finja o tempo todo que você está vivendo em Marte, entre criaturas estranhas, e não dê muito valor às ações dessas criaturas. Você, como todos os estudantes de nossa época, é vítima do pior dos males do capitalismo: A invalidação do indivídio e o estímulo permamente a uma atitude competitiva exagerada, instruindo-o a adorar o êxito aquisitivo acima de todas as coisas.

Tenha sempre em mente que os melhores e mais nobres estão sempre sós, sempre foi assim e sempre será. Mas isso é bom, pois você pode aproveitar ao máximo , a pureza de sua própria atmosfera..."

Quase um século se passou desde esta carta, mas o seu conteúdo continua valendo. Queixas como as desse estudante são ouvidas por muitos professores, quase todo dia.

Os Indivíduos de real valor são aqueles que se libertam das estruturas de pensamento, montadas muito antes de seu nascimento. Nem que isso seja feito no mais absoluto silêncio.

28 de out. de 2007

O Dragão Na Minha Garagem

- Um dragão que cospe fogo pelas ventas vive na minha garagem.

Suponhamos que eu lhe faça seriamente essa afirmação. Com certeza você iria querer verificá-la, ver por si mesmo. São inumeráveis as histórias de dragões no decorrer dos séculos, mas não há evidências reais. Que oportunidade!
- Mostre-me – você diz. Eu o levo até a minha garagem. Você olha para dentro e vê uma escada de mão, latas de tinta vazias, um velho triciclo, mas nada de dragão.
- Onde está o dragão? – você pergunta
- Oh, está ali – respondo, acenando vagamente. – Esqueci de lhe dizer que é um dragão invisível.
Você propõe espalhar farinha no chão da garagem para tornar visíveis as pegadas do dragão
- Boa idéia – digo eu –, mas esse dragão flutua no ar.
Então, você quer usar um sensor infravermelho para detectar o fogo invisível.
- Boa idéia, mas o fogo invisível é também desprovido de calor.
Você quer borrifar o dragão com tinta para torná-lo visível.
- Boa idéia, só que é um dragão incorpóreo e a tinta não vai aderir.
E assim por diante. Eu me oponho a todo teste físico que você propõe com uma explicação especial de por que não vai funcionar.
Qual a diferença entre um dragão invisível, incorpóreo, flutuante, que cospe fogo atérmico, e um dragão inexistente? Se não há como refutar a minha afirmação, se nenhum experimento concebível vale contra ela, o que significa dizer que o meu dragão existe? A sua incapacidade de invalidar a minha hipótese não é absolutamente a mesma coisa que provar a veracidade dela. Alegações que não podem ser testadas, afirmações imunes a refutações não possuem caráter verídico, seja qual for o valor que possam ter por nos inspirar ou estimular nosso sentimento de admiração. O que eu estou pedindo a você é tão somente que, em face da ausência de evidências, acredite na minha palavra.

Extraído do livro de Carl Sagan : "O Mundo Assombrado por Demônios - a ciência vista como uma vela no escuro" - Companhia das Letras

27 de out. de 2007

Vida fora da Terra

Hoje um aluno perguntou se eu acreditava em vida extra-terrestre. respondi que sim, pois acredito que a vida é um fenômeno natural e como tal, segue leis universais.
Isaac Newton (1643-1727) foi o primeiro cientista a demonstrar que a natureza não é subdividida, ou seja, não existem leis da Terra e leis do céu, como acreditava o filósofo grego Aristóteles.
Só há a vida na Terra porque as leis naturais permitem que moléculas evoluídas se auto repliquem dentro de certas condições. Se as mesmas condições ocorrerem em outros mundos, então a vida surgirá compulsoriamente.
Os fenômenos impossíveis não ocorrem, mas os possíveis simplesmente são obrigados a ocorrer, não há outra possibilidade.
Hoje sabemos que o tamanho do universo é algo em torno de 14 bilhões de anos-luz ( 1 ano-luz = 9,5 trilhões de Km). A possibilidade de existirem mundos semelhantes à Terra é perto de 100% e, só na nossa galáxia, existem estrelas semelhantes ao nosso Sol , aos bilhões. Toda essa vastidão praticamente obriga a existência da vida fora da Terra.
Em seguida, ele me perguntou se poderia ser vida inteligente como a nossa.
"E por que não?",Respondi . Uma vez que, o que chamamos de inteligência é ,também , um fenômeno natural, causado pela evolução de um órgão complexo- o cérebro.
A Ciência tem se mostrado extremamente confiável ao longo do tempo. Ainda não tem todas as respostas ( nem pretende) ,mas tem ajudado muito a humanidade em muitos aspectos, principalmente no que diz respeito à compreensão do universo.
Agora é só esperar algum contato. Espero que ocorra ainda em nossa geração.

Zenão , a pluralidade e o infinito

Zenão (490-485 a. C) foi um dos primeiros matemáticos gregos a pensar sobre a idéia de infinito. Leia abaixo um dos chamados "paradoxos de Zenão" e faça a sua mente divagar no infinito.
"Se a pluralidade existe, as coisas serão igualmente grandes e pequenas; tão grandes que serão infinitas em tamanho, tão pequenas que não terão qualquer tamanho.
Se o que existe não tivesse tamanho, nem sequer seria. Pois se fosse acrescentado a qualquer outra coisa, não a faria maior; pois não tendo tamanho algum, não podia, ao ser acrescentado, causar qualquer aumento em tamanho. E assim, o que fosse acrescentado seria evidentemente nada. E também se, ao ser tirado, a outra coisa não fica menor, tal como, quando acrescentada, não aumenta, é óbvio que o que foi juntado ou tirado era nada.
Mas, se existe, cada coisa deve ter um certo tamanho e espessura; e uma parte dela tem de estar a certa distância de outra parte; e o mesmo argumento vale para a parte que está diante dela - que também terá algum tamanho, e alguma parte dela estará à frente. E é a mesma coisa dizer isto uma vez e continuar a dizê-lo indefinidamente; pois nenhuma parte dela será a última, nem haverá nunca uma parte sem relação a outra.
Assim, se há uma pluralidade, as coisas têm de ser igualmente grandes e pequenas; tão pequenas que nem terão tamanho, tão grandes que serão infinitas." fonte :(Kirk e Raven,1979, p. 295)
A figura é uma pintura do holandês M. C. Escher (1898-1970), retratando a tira de Moebius, uma superfície de face única, portanto, infinita.

Pálido ponto azul



Uma reflexão fabulosa de um dos grandes divulgadores da ciência no século XX : Carl Sagan. A minúscula imagem da Terra (pale blue dot) foi tirada pela sonda Voyager que, a centenas de milhões de quilômetros, virou suas câmeras para trás para alertar-nos acerca de nossa insignificância.