29 de set. de 2008

Portal oculto da mágica de Harry Potter é possível




Físicos chineses descobriram como usar materiais especiais que manipulam a luz para criar uma passagem secreta invisível em uma parede.


Um dos autores da descoberta, Xudong Luo, da Universidade de Jiao Tong, em Xangai, confessou que é fã da série de livros "Harry Potter" e que não teve dúvida de concluir no artigo científico em que descreve seus cálculos que "um dispositivo como a Plataforma 9 3/4 (...) é realizável".

Para quem nunca leu os livros da série, aqui vai uma explicação: o trem que leva Harry Potter e seus amigos à escola de bruxaria de Hogwarts sai da estação King's Cross, em Londres, de uma plataforma secreta, a Plataforma 9 3/4. Sua entrada invisível fica na parede entre as plataformas 9 e 10.


Uma plataforma 9 3/4 foi até construída na estação real, mas é uma brincadeira, e aqueles que tentarem atravessar a parede podem parar no hospital em vez de em Hogwarts.


Luo e seus colaboradores calcularam o que é preciso para realizar a mágica de ocultar uma abertura em uma parede.


O truque é usar materiais especiais, capazes de manipular a luz que incide sobre eles. Chamados de "metamateriais", eles podem entortar raios de luz em direções impossíveis para materiais comuns, graças a rugosidades microscópicas em suas superfícies.


A mágica ocorre quando se põe no meio da abertura da parede uma coluna revestida de metamaterial. A luz se espalha em volta da coluna, formando uma espécie de "camuflagem" que bloqueia toda a abertura. Os físicos calcularam ainda o que ocorre quando alguém atravessa a camuflagem de luz. Ela ondularia um pouco e o lado oculto da parede ficaria parcialmente visível por instantes.


O efeito parece sobrenatural, mas na verdade é apenas uma versão exagerada do que ocorre quando a luz passa por um copo de vidro cheio de leite.


"Quando você olha para um copo de leite, você não vê o vidro", disse o físico britânico John Pendry, do Imperial College, em Londres, em uma reportagem da revista "Nature".


O leite espalha a luz de maneira que parece se estender até a superfície externa do copo. O que os físicos chineses fizeram foi criar um material que espalha a luz muito mais do que o leite. É como se o leite em um recipiente de vidro se projetasse para fora dele. Falta agora tentar levar o projeto da teoria para a prática.


Artigo escrito por IGOR ZOLNERKEVIC no jornal Folha de São Paulo


28 de set. de 2008

Coincidências

Muitas pessoas acreditam que as coincidências são explicadas por forças misteriosas ou sobrenaturais. Não precisamos chegar a tanto, pois a matemática pode demonstrar com exatidão que as coincidências são muito mais comuns do que imaginamos.


Abaixo vemos um exemplo simples porém surpreendente do grupo de coincidências cotidianas.




Aniversários Coincidentes:


Em uma seleção aleatória de 23 pessoas há 50% de chance de pelo menos duas delas fazerem aniversário no mesmo dia. Quem não fica surpreso ao ouvir isso pela primeira vez? O cálculo é exato. Primeiro calculamos a probabilidade de todas as pessoas no grupo terem aniversários diferentes (X) e então subtraímos esta fração de 1 para obtermos a probabilidade de um aniversário comum no grupo (P), P = 1 - X. Probabilidades variam de 0 a 1, ou podem ser expressas de 0% para 100%. Para não haver aniversários coincidentes, uma segunda pessoa tem uma escolha de 364 dias, uma terceira pessoa tem 363 dias, e a enésima pessoa tem (366 - n) dias. Assim a probabilidade para aniversários diferentes fica:




Com esses fatoriais a última equação não é especialmente útil a menos que se tenha a habilidade de calcular números grandes. Fica mais fácil usar um computador para calcular Xn da primeira igualdade para valores sucessivos de n. Quando n = 23, X = 0.493 e P = 0.507.




Esta série de cálculos serve para tirarmos uma conclusão: Se coincidências de datas de aniversários são muito mais comuns do que poderíamos imaginar, então provavelmente muitas daquelas outras coincidências em nossas vidas são muito mais fáceis de acontecer e não são tão fantásticas assim. Nós não devemos multiplicar as hipóteses: o princípio da "Navalha de Occam" declara que a explicação mais simples deve prevalecer.


A partir deste exemplo, torna-se possível calcular, por exemplo, a probabilidade você estar pensando em uma pessoa e imediatamente ela ligar pra você, ou sonhar com um acidente e ele de fato ocorrer.


A Natureza (com sua leis ) por si só já é maravilhosa, não precisa de enfeites ou toques mágicos para torná-la melhor.



9 de set. de 2008

Uma festa de físicos famosos

Um dia, todos os físicos famosos do mundo decidiram se juntar para uma
festinha. Felizmente, Teobaldo, que estava na porta, era um estudante de
graduação, e pode observar algumas coisas:

Todos gravitaram ao redor de Newton, mas ele só ficou se movimentando por
ali a uma velocidade constante e não mostrou reação.

Einstein achou que aquele era um momento relativamente bom.

Coulomb ficou com uma grande carga da coisa toda.

Cauchy, sendo o único matemático ali, ainda tentava se
integrar bem com todo mundo.

Pascal estava sob muita pressão para se divertir.

Ohm passou a maior parte do tempo resistindo às opiniões de

Ampère sobre os eventos correntes.

Volt pensou que a vida social tinha muito potencial.

Heisenberg podia estar ali ou não.

Todo mundo ficou atraído pela personalidade magnética de Tesla.

Bohr comeu demais e ficou com uma dor atômica.

Watt se tornou um potente orador.

Hertz voltou à mesa de buffet várias vezes por minuto.

Faraday tinha uma bela capacidade para comida.

Oppenheimer tomou bomba.

(fonte: newsgroup uol.carreiras.fisica )

31 de ago. de 2008

Telefone celular : Perigos para a saúde

Alguns estudos mostram uma ligação estatística do celular com câncer, mas estes dados ainda necessitam de confirmação. Muitos anos atrás foram observadas relações estatística entre cigarro e câncer, mas não se compreendia a causa exata da doença.

Essa é a mesma preocupação de Devra Davis, Diretora do Centro de Oncologia Ambiental da Universidade de Pittsburg, nos EUA. Não há evidência concreta de que os celulares sejam nocivos, mas nós também não temos certeza de que eles sejam seguros.

E a preocupação é ainda maior no que concerne às crianças. Se uma criança de 14 anos está fumando, você não precisa se preocupar que ela vá desenvolver câncer naquele instante. Os efeitos do tabaco podem levar décadas para se acumular no organismo e causarem as mutações nocivas que levam ao câncer, e é possível que o mesmo ocorra com os celulares. Como os aparelhos celulares, que hoje parecem estar onipresentes, são usados a apenas poucos anos não há como saber dos efeitos de uma exposição a longo prazo.

O grupo da Dra. Devra e seus colegas, especialistas em câncer, liberaram recentemente um comunicado para seus funcionários sobre o uso dos celulares, recomendando o uso de viva-voz ou fones de ouvido. Crianças, segundo ela, deveriam usar celulares apenas em emergências, pois possuem o crânio mais fino e o cérebro ainda está em desenvolvimento.

Ninguém deveria carregar seus aparelhos no bolso ou na cintura. "Você está cozinhando a sua medula óssea", disse Devra. Na possibilidade da radiação do celular realmente ser perigosa, você quer jogar Roleta Russa com a sua cabeça?

Se você se convenceu com os argumentos mais alarmistas de que o celular possa causar câncer, agora terá que descobrir a melhor maneira de continuar usando o seu aparelho, já que a maioria de nós não pode mais viver sem ele.

Enquanto não houver um consenso sobre o assunto entre os especialistas, o que nós podemos fazer? É fato que os celulares realmente emitem radiação, mas há alguns simples passos que podem reduzir a exposição à radiação ou praticamente eliminá-la.

5. Compre um telefone celular com menos radiação

A radiação do celular é medida através da Taxa de Absorção Específica (specific absorption rate – SAR). Para saber qual a SAR do seu aparelho veja esta lista (em inglês).

Mas é o nível de exposição que importa. Se você utiliza muito o celular é importante comprar um telefone com uma SAR menor. Mas se você o utiliza pouco, a sua exposição é bem reduzida.

4. Use um fone de ouvido de "tubo oco"

É similar a um fone comum, exceto pelo fato de que os últimos 15 cm – a parte mais próxima do ouvido – é um tubo oco sem fios. Nesse caso você está recebendo o som através do ar e não ondas de radio.

3. Use um fone Bluetooth

Um fone Bluetooth também emite radiação, mas ela é cem vezes menor do que a radiação que você recebe ao segurar o telefone no ouvido, disse Magda Havas, professora associada do Institute for Health Studies da Universidade de Trent em Ontário, Canadá. Os especialistas ficaram divididos entre quesito e o no 2, mas o governo de Israel emitiu recomendações essa semana sugerindo especificamente fones com fio.

Mas apesar de Magna gostar da solução Bluetooth ela diz para não colocar o fone na cabeça se você não estiver falando, pois o dispositivo continua a emitir sinal. Há pessoas que utilizam o fone o tempo todo e o mínimo que devem fazer é mudar o fone entre os ouvidos, de tempos em tempos, para reduzir a exposição em apenas um dos lados.

2. Use fones de ouvido com fios com uma conta de ferrite

Não, não é nenhum tipo de bijuteria. Uma conta de ferrite pode ser colocada no fio do fone de ouvido. A preocupação é que o próprio fio emita radiação no seu ouvido. A conta foi criada para absorver a radiação, para que você não o faça. Elas são baratas e você pode encontrar em lojas ou na internet.

As contas são os favoritos de Louis Slesin, editor da revista Microwave News. "É a melhor maneira", ele disse. Testes feitos na Universidade de York, na Inglaterra, descobriram que se você usa a conta de ferrite a radiação emitida pelo fio não pode sequer ser medida, mesmo sob as piores condições. "Este dispositivo comum mata a radiação."

É claro que se o telefone celular está em seu bolso isso não ajuda muito, pois o aparelho estaria irradiando diretamente no seu corpo. Portanto, se você preocupa-se mesmo com a radiação, mantenha o telefone o mais afastado o possível e evite ao máximo que o fio esteja tocando seu corpo.

1. Use sempre a função viva-voz

Esta é a opção alternativa favorita de todos os especialistas. Nada próximo da sua cabeça. "Coloque-o a algumas dezenas de centímetros. Meio ou um metro é o ideal", disse Magda.

A cada centímetro que você afasta o aparelho de seu corpo faz com que a radiação se reduza rapidamente. A 5 cm de distância a radiação reduz em 4 vezes. Se você segurá-lo a 10 cm a radiação cai 16 vezes, segundo ela.

Segundo Louis "cada milímetro conta".

Muitos dos cientistas entrevistados usam o aparelho direto no ouvido, pois o utilizam pouco. A analogia com o cigarro também vale aqui. Se você fuma um ou dois cigarros por semana não precisa se preocupar tanto quanto uma pessoa que fuma um maço por dia.

Artigo Original :: CNN

13 de jul. de 2008

Paradoxos

Dou-me de presente todas as idéias. Só não me dou de presente a idéia de infinito. Não me acostumei em vida a justificar qualquer hierarquia, não me acostumei a pensar a desigualdade. A relação do homem com o infinito não passa pelo campo do saber. O infinito é um desejo que se nutre de sua própria fome de... infinito!Eu, um metafísico?! De jeito nenhum. Encantam-me os paradoxos. Ou melhor: sou vítima dos paradoxos. Se levanto o punhal para assassiná-los, os paradoxos zombam de mim. Quanto mais zombam de mim, mais os admiro, por sua inconsistência sedutora. Ah! Os paradoxos!... Tento corrigi-los. Ossos do ofício de quem foi um dia revisor de jornal!

Graciliano Ramos

26 de jun. de 2008

A pseudociência da Homeopatia

Christian Friedrich Samuel Hahnemann (1755-1843), o criador da doutrina homeopática, foi um grande médico. Quando começou a formular os princípios da homeopatia (do grego homeo, semelhante, e pathos, sofrimento ou doença), em fins do século 18, o horror que nutria pela medicina tradicional de seu tempo era justificado. Entre os recursos médicos da época contavam-se a aplicação de sanguessugas, os enteroclismas (lavagens intestinais), as sangrias, a administração maciça de drogas perigosas e outros métodos invasivos que geralmente faziam mais mal do que bem. Hipócrates foi a inspiração de Hahnemann para a lei dos semelhantes.


Disse ele: "Há doenças que são tratadas pelo similar, outras pelo contrário. Tudo depende da natureza da doença". A noção de que a maioria das doenças pode ser curada pelos mesmos agentes que a causam também é encontrada na medicina chinesa. Se a cura do semelhante pelo semelhante prenunciava-se em Hipócrates, em Paracelso ela era explícita. Foi ele o autor da frase similia similibus curantur, erroneamente atribuída a Hahnemann. Como Hahnemann conhecia perfeitamente o latim e o grego antigo, podemos crer que bebeu de primeira mão dessas fontes clássicas, embora haja quem discorde.


Partindo de observações feitas a partir do uso do extrato de quinino, que, usado em pessoas sadias, parecia produzir os mesmos sintomas da doença que era usado para tratar a malária – chamada então de febre dos pântanos –, Hahnemann formulou o primeiro axioma da homeopatia, conhecido como Lei dos Semelhantes. Outros dois axiomas da homeopatia são a Lei do Remédio Único, que estabelece que o remédio mais eficaz é a substância pura que produza os mesmos efeitos da doença a combater, aplicada em dose única; e a Lei da Dose Mínima, ou dos Infinitesimais, que diz respeito à diluição do princípio ativo, o famoso e controverso princípio do "quanto mais diluído mais forte".

Dinamização?


A diluição, chamada em homeopatia de potencialização ou dinamização envolve uma seqüência progressiva de diluição e agitação rítmica, a chamada sucussão. A primeira diluição é obtida adicionando-se uma parte do princípio ativo a nove partes de solvente, geralmente água ou álcool. Faz-se em seguida a sucussão percutindo-se ritmicamente o frasco com a solução contra um anteparo, geralmente uma tira de couro. A potência da solução obtida é de 1DH na escala decimal hahnemanniana, ou seja, uma parte em dez. Para obter-se a potência 2DH, no mesmo sistema decimal, mistura-se uma parte da solução anterior em nove de água, o que resulta em solução com uma parte de soluto em 100 (1 seguido de dois zeros) de solvente. Similarmente, obtém-se as potências seguintes, de 3DH até diluições extremas como 30DH, ou seja, 1/10^30, uma parte de soluto em volume de solvente representado pelo número um seguido de trinta zeros.


Embora as diluições mais usadas estejam entre 6DH e 30DH, a coisa não pára por aí – há diluições ainda maiores. Além da escala decimal, representada por DH, existem outras. A escala centesimal hahnemanniana, por exemplo, representada por CH, é bastante usada. Na escala centesimal, uma solução 1CH é 1/100, 2CH é 1/10.000, 3CH é 1/1.000.000, e assim por diante. São comercializados remédios homeopáticos que vão até 200CH, ou 1/100^200. Diluições tão altas escapam à compreensão, por não terem paralelo em nossa experiência comum. Os exemplos das seções seguintes talvez ajudem e surpreendam.

Hahnemann e Avogadro


Hahnemann foi contemporâneo de Amadeo Avogadro (1776-1856) mas certamente não conheceu o trabalho do grande químico e físico italiano. O Organon foi publicado um ano antes da formulação da hipótese de Avogadro; muitos anos antes, portanto, da determinação do número que veio a ser conhecido por Constante de Avogadro. Avogadro descobriu que o número de átomos ou moléculas em um mol de uma substância qualquer é constante. Esse número – determinou-se mais tarde – é igual a 6,022137 x 10^23. Um mol, ou molécula-grama, é o equivalente em gramas da massa molecular da substância. A massa molecular da água, por exemplo, é 18, pois a molécula da água, H2O, contém dois átomos de hidrogênio, de massa atômica 1, e um átomo de oxigênio, de massa atômica 16. Assim, há exatamente 6,022137 x 10^23 moléculas em 18 gramas de água.


As leis da química permitem determinar a solução mais diluída que pode ser preparada sem a eliminação completa da substância original. Estatisticamente, só é garantida a presença de pelo menos uma molécula do princípio ativo em soluções mais concentradas do que uma parte de soluto por volume equivalente à constante de Avogadro de partes de solvente, ou seja, 1 parte de soluto por 6,022137 x 10^23 partes de solvente. Isso quer dizer que a partir das potências homeopáticas 24DH ou 12CH, ou 1 parte em 10^24, a chance de existir uma única molécula do princípio ativo no medicamento é quase nula, e diminui ainda mais com a elevação da potência.

O rio


O Amazonas, maior rio do mundo, por onde passa um quinto de toda a água da superfície do planeta, descarrega no mar cerca de 175 mil metros cúbicos de água por segundo. O volume é tanto que a 150 km de sua foz as águas do mar ainda são menos salgadas devido ao enorme volume de água despejado pelo rio. Fazendo as contas, verificaremos que a vazão do Amazonas é igual a 1,75 x 10^11 centímetros cúbicos por segundo. Um centímetro cúbico de água contém aproximadamente quinze gotas; a vazão em gotas por segundo é, portanto, de 2,63 x 10^12. Na diluição homeopática 30DH, uma parte de princípio ativo – digamos, uma gota – é diluída em 1.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000 gotas de água. Para despejar essa quantidade de gotas, o Amazonas levaria cerca de 3,81 x 10^17 segundos, ou seja, 12.079.920.756 anos.

Imagine que fosse possível arranjar um meio de conter toda essa água, que é equivalente a milhares de vezes o volume de todos os oceanos da Terra. Para chegar à diluição 30DH seria só pegar um conta-gotas, ir até a foz do Rio Amazonas, no Pará, pingar uma gota de princípio ativo no rio e aguardar pouco mais de 12 bilhões de anos até a diluição final. E esperar que a pororoca se encarregue da sucussão.

O pato


Se o leitor ficou surpreso com o cálculo acima, apresento outro ainda mais surpreendente, este de Robert L. Park, físico da Universidade de Maryland, nos EUA. Um produto chamado Oscillococcinum, produzido a partir de fígado e coração de pato, é comercializado na potência 200CH. Se uma única molécula da substância original pudesse estar presente no produto final, sua diluição seria de 1 por 1 seguido de quatrocentos zeros – um número maior do que o número estimado de átomos em todo o universo conhecido, que não é mais do que um mísero googol, ou seja, 1 seguido de apenas 100 zeros. O Oscillococcinum é vendido como tratamento para os sintomas de gripes e resfriados. A revista americana U.S. News & World Report (17/2/97) observou que um único pato seria suficiente para fabricar o estoque anual do produto [o fígado de apenas um pato poderia, na verdade, servir para fabricar todo o estoque do produto até o fim dos tempos], cuja venda total foi de 20 milhões de dólares em 1996. Como se vê, a popularização do uso do Oscillococcinum não chega a ameaçar os patos de extinção.


Os remédios homeopáticos para uso interno são ingeridos na fórmula de glóbulos, tabletes, pó ou diretamente na forma de solução hidroalcóolica ou aquosa. As formas sólidas – glóbulos, tabletes e pós – são fabricadas pingando-se uma gota da solução diluída sobre um veículo inerte, geralmente sacarose ou lactose. Park calculou que, para ter certeza de ter ingerido uma única molécula da substância medicinal presente na potência 30DH, seria necessário ingerir dois bilhões de tabletes, cerca de mil toneladas de lactose mais as impurezas que a lactose porventura contenha.


Os fatos apontados acima são entendidos e aceitos pelos homeopatas. O próprio Hahnemann percebeu que provavelmente nenhuma molécula da substância original restaria após essas diluições extremas – as chamadas diluições ultramoleculares. Hahnemann acreditava, no entanto, que a ação vigorosa da sucussão deixa no solvente uma "essência espiritual imperceptível aos sentidos" que estimularia as "energias vitais" do corpo. Se hoje esse tipo de linguagem soa pouco científica, no tempo de Hahnemann ela podia-se justificar. Basta lembrar que seus colegas de profissão ainda falavam em extrair o sangue mau e balancear humores.

1 de mai. de 2008

Como você aprende Física e Matemática?

A maioria dos professores e pedagogos estão convencidos de que exemplos concretos ( do dia a dia) facilitam o aprendizado da matemática e da física . O discurso generalizado é que aprendizagem de conceitos abstratos feita somente através de símbolos torna a matemática inacessível ao aluno.

Professores (como eu) com um estilo mais teórico e por vezes até filosófico, são muito criticados pelos técnicos da educação, que muitas vezes nunca entraram em uma sala de aula. Certa vez, um diretor de uma escola chegou a criticar o meu vocabulário, acusando-o de "muito erudito para ser compreendido pelos alunos", imagina! Terminou aconselhando-me a pesquisar gírias atuais para melhorar a minha comunicação com o alunado (ABSURDO).


Argumentei que acredito que o professor deve acrescentar sempre algo ao aluno e, se possível, idéias, palavras e aprendizados úteis e duradouros.


Pois bem. Esta semana descobri que não estou sozinho (ufa!). Pesquisadores da universidade de Ohio (EUA) publicaram um trabalho na conceituada revista Science, mostrando o resultado de uma pesquisa inédita sobre o ensino de ciências e matemática.

Descobriram que o ensino recheado de situações práticas, ao contrário do que todo mundo pensa, dificulta o aprendizado da matemática e da física. Exemplos muito cotidianos não servem para aprender as idéias da matemática de forma definitiva e impedem que os alunos transfiram tais conceitos para outras situações.


Foram realizados experimentos aleatórios controlados (coisa rara em pesquisas educacionais) com estudantes voluntários. No experimento os estudantes aprenderam um sistema matemático simples, mas desconhecido por eles, que é essencialmente uma série de regras.


Alguns aprenderam o sistema através de símbolos puramente abstratos e outros através de exemplos concretos como combinar líquidos em copos de medida e bolas de tênis em um recipiente. Em seguida os estudantes foram testados em uma situação diferente — foi dito a eles que era uma brincadeira infantil — que usava aquela matemática. “Nós dissemos aos estudantes que poderiam usar o conhecimento que haviam acabado de adquirir para descobrir as regras do jogo”, disse Jennifer Kamiski, pesquisadora da universidade de Ohio.


Os estudantes que aprenderam aquela matemática de maneira abstrata se saíram bem ao descobrir as regras do jogo. Aqueles que haviam aprendido através de exemplos usando copos de medida ou bolas de tênis foram apenas um pouco melhor do que se estivessem tentando adivinhar a resposta.


A explicação é simples. O ensino contextualizado em excesso acaba chamando atenção do aluno para coisas muito superficiais, contidas nos exemplos e, dessa forma, afastando o conhecimento que realmente importa.


A conclusão que tiro dessa discussão é que a generalização é o grande mal da educação. Nunca admiti um ensino pragmático ao extremo , com resultados rápidos. Acho isso uma grande ilusão. Temos sim é que tentar transferir aos alunos, toda a nossa paixão pela ciência e mostrar que nem sempre os métodos que os divertem são eficientes e contribuem para a sua formação global.

30 de abr. de 2008

Poema

Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas
que já têm a forma de nossos corpos
e esquecer os nossos caminhos
que nos levam sempre aos mesmos lugares.
É o tempo da travessia.
E se não ousarmos fazê-la teremos ficado para sempre à margem de nós mesmos.


Fernando Pessoa

20 de abr. de 2008

Escuridão do céu noturno: Paradoxo de Olbers

Olhe para a imagem apresentada acima. Ela nos mostra o aglomerado de galáxias de Virgo. O que mais nos chama a atenção nesta imagem? Veja que os pontos luminosos, que são imagens de galáxias e estrelas existentes no campo fotografado, estão bastante espaçadas. Vemos nela o domínio do espaço vazio.


A imagem mostrada é bastante semelhante ao céu noturno que observamos a olho nú no nosso dia a dia. O céu é escuro, salpicado por inúmeros pontos luminosos.


Mas, por que o céu é escuro?


Esta pergunta foi feita há muito anos por vários pensadores. Ela foi proposta por Johannes Kepler em 1610, por Edmond Halley e Jean de Chéseaux no século XVIII, e finalmente por Heinrich Olbers em 1826. Embora perguntar por que o céu é escuro à noite possa parecer uma questão trivial ela não o é e sua resposta nos leva a concluir coisas bastantes profundas sobre o Universo.


O Paradoxo de Olbers
Uma das primeiras pessoas a formalmente questionar a escuridão do céu noturno foi o astrônomo e matemático suiço Jean Philippe Leys de Chéseaux. Isso ocorreu em Lausanne, Suiça, em 1744. Chéseaux formulou a seguinte questão: "Por que o céu é escuro? Se o número de estrelas é infinito, um disco estelar deveria cobrir todos os trechos do céu"


Chéseaux tentou resolver o problema argumentando que uma pequena diminuição na luz emitida pelos corpos celestes seria suficiente para resolver o problema.


Ocorre que esta explicação não é correta. Vamos supor que a luz emitida pelas estrelas fosse suficientemente absorvida por algum tipo de matéria existente entre elas e nós. Isto necessariamente faria com que essa matéria fosse aquecida e, consequentemente, emitisse luz na mesma taxa na qual ela foi absorvida. Isto é garantido pelo princípio de conservação de energia e é este processo que faz com que o céu fique brilhante durante o dia pois a luz solar incidente sobre a nossa atmosfera é espalhada pelas moléculas de ar ou gotas de água ai existentes. O processo descrito por Chéseaux faria o céu ser brilhante o tempo todo.



Muitos anos mais tarde o assunto chamou a atenção de Heinrich Wilhelm Matthäus Olbers (1758 - 1840), um astrônomo alemão que, após praticar a medicina durante o dia, dedicava o seu tempo noturno à astronomia. Esse trabalho observacional fez com que ele descobrisse o asteróide Pallas no dia 28 de março de 1802 e o asteróide Vesta no dia 29 de março de 1807.


Olbers colocou o problema da seguinte forma:
"Por que o céu é escuro a noite? A intensidade da luz diminui com o quadrado da distância ao observador. Se a distribuição das estrelas é uniforme no espaço, então o número de estrelas situadas a uma distância particular ao observador deveria ser proporcional à área superfícial de uma esfera cujo raio é aquela distância. Para cada raio, por conseguinte, a quantidade de luz deve ser tanto proporcional ao quadrado do raio e inversamente proporcional ao quadrado do raio. Estes dois efeitos se cancelarão e deste modo toda concha deve adicionar a mesma quantidade de luz. Em um universo infinito o céu seria infinitamente brilhante."


Podemos colocar os argumentos acima de forma mais clara:
Se o Universo fosse estático e preenchido com uma distribuição uniforme de estrelas então cada linha de visada no céu terminaria em uma estrela e, consequentemente, o céu seria uniformemente brilhante. ou então, se o Universo fosse infinitamente grande o céu inteiro seria tão brilhante quanto a superfície de uma estrela.


Vemos que os raciocínios desenvolvidos por Jean de Chéseaux e Heinrich Olbers nos faz imaginar um céu tão brilhante, ou mais brilhante, que o Sol!


Ocorre que qualquer um que olhe para o céu noturno vê que isso não acontece. O céu noturno é absolutamente negro, pontilhado por muitas estrelas sem dúvida, mas de modo algum exageradamente brilhante. O que havia de errado?


Resolvendo o paradoxo
Desde os anos de 1600 astrônomos e filósofos propuseram muitas possíveis maneiras de resolver este paradoxo. Como era de se esperar, todas as análises feitas no passado só podiam se basear nos conceitos cosmológicos predominantes. Por exemplo, em 1848 o poeta Edgar Allan Poe, um dos grandes nomes da literatura norte-americana, sugeriu uma saída para o impasse. Ele propôs que o universo poderia ser infinitamente grande mas com uma idade finita. Se fosse assim, uma vez que nós ainda não recebemos luz das estrelas mais distantes haveria intervalos entre as estrelas visíveis e, deste modo, o céu poderia aparecer escuro.


A solução padrão atualmente aceita depende de aceitarmos a teoria do Big Bang que nos diz que o universo tem uma idade finita e está se expandindo.


1. se o universo existe por somente uma quantidade finita de tempo, como a teoria do Big Bang postula, então somente a luz proveniente de um número bastante grande mas finito de estrelas teria tido a chance de nos alcançar até o momento. Deste modo, o paradoxo é destruido.



2. se o universo está se expandindo e as estrelas distantes estão se afastando de nós, o que é uma
previsão fundamental da teoria do Big Bang, então a luz proveniente delas é deslocada para o vermelho (redshift) o que diminui o seu brilho. Outra vez o paradoxo está resolvido.


Note que ambos os efeitos citados acima podem, isoladamente, contribuir para a resolução do paradoxo. No entanto, de acordo com a teoria do Big Bang, ambos contribuem para a solução sendo que a duração finita
da história do Universo é usualmente julgada como o efeito mais importante dos dois.

(Baseado em paper do Observatório Nacional)

19 de abr. de 2008

Dalai Lama : Gostei!



Todos sabem que muitos religiosos atacam permanentemete a ciência, muitas vezes distorcendo conceitos e teorias (as quais não conhecem profundamente) para que se adaptem à sua fé.


Não é o caso de Dalai lama, líder espiritual dos tibetanos, prêmio Nobel da paz em 1989 e figura respeitadíssima no budismo mundial.



Em seu livro "O universo é um simples átomo" lançado em 2005, faz uma tentativa de coadunar os conceitos da ciência moderna com os preceitos budistas que professa.






Lê-se no prólogo do livro : "Minha confiança em me aventurar na ciência reside em minha crença básica de que na ciência, assim como no Budismo, o conhecimento sobre a natureza da realidade é buscado através da investigação crítica; se a análise científica demonstrasse de forma conclusiva a falsidade de uma alegação do Budismo, então teríamos que aceitar a conclusão da ciência e abandonar esta alegação."




Dalai lama já participou de vários congresos de neurociência pelo mundo, pois algumas pesquisas mostram que a meditação pode melhorar alguns aspectos do cérebro humano.
Logicamente o busdismo e a ciência divergem em muitos aspectos. Porém, é louvável a busca de discussões profundas entre todas as nuances do pensamento e da cultura criados pelo homem. Além do mais, a ciência não tem todas as respostas, ainda que busque incasalvemente por elas.

8 de mar. de 2008

Descobertas acidentais ou "serenditipy"

A palavra "serenditipy" pode ser traduzida como serendipismo ou serenditipidade e é usada para descrever descobertas acidentais na ciência. Deriva de um conto do Sri Lanka (Ceilão), onde os personagens principais faziam descobertas casuais incríveis.



O viagra ( sildenafil) pode ser um exemplo de serenditipy. A droga foi produzida inicialmente para combater problemas cardíacos, pois melhora a circulação arterial. Já nos primeiros testes realizados pelo laboratório pfizer, os voluntáriaos, na maioria velhinhos de 70 anos, não apresentaram nenhuma melhora cardíaca, mas um efeito colateral do sildenafil chamou a atenção dos pesquisadores : Alguns idosos começaram a demonstrar um grande interesse na continuidade dos testes, já que haviam melhorado e muito o seu desempenho sexual. Logo o laboratório desviou as pesquisas do sildenafil para os problemas de disfunção erétil masculina. Estava criada a droga recreativa mais consumida no mundo, segundo institutos de pesquisa americanos.

Veja outros grandes exemplos de "serendipity" na história da ciência:

Arquimedes
Arquimedes (287-212 a.C.), o grande matemático e inventor grego, tomava seu banho imerso em uma banheira, quando repentinamente, encontrou a solução para um problema que o atormentava havia tempos. Seria a coroa do rei de Siracusa realmente de ouro? Dizem que Arquimedes teria saído à rua nu gritando Eureka! Eureka! (Encontrei!). Ele havia descoberto um dos princípios fundamentais da hidrostática, que seria conhecido futuramente como o "Princípio de Arquimedes" ou lei do empuxo.

Kekulé
O químico alemão August Kekulé (1829-1896) adormeceu na plataforma enquanto esperava o ônibus que o levaria à sua casa e sonhou com uma cobra que mordia o seu próprio rabo, rodopiando numa roda desenfreada. Segundo ele, foi esse sonho que o inspirou no entendimento de como os átomos do anel benzênico se ligavam entre si, princípio básico da química orgânica.

Alexander Fleming
Ao se preparar para entrar em férias por duas semanas, Alexander Fleming inoculou estafilococos em uma bandeja e, ao invés de colocá-la na incubadora, como normalmente fazia, resolveu deixá-la sobre a bancada.
No andar de baixo do laboratório de Fleming trabalhava um perito em bolores que cultivava, entre outros, os esporos de um fungo desconhecido, o Penicillium notatum. Imagina-se que os esporos, muito leves, tenham sido levados pelo vento e estavam flutuando em grande quantidade no ar do laboratório de Fleming, cuja porta sempre ficava aberta.
Retornando das férias, e encontrando o laboratório em grande desordem, Fleming começou a fazer uma limpeza geral. Repentinamente, uma das bandejas de estafilococos que estava prestes a ser desinfetada chamou-lhe a atenção. A placa apresentava uma larga zona clara totalmente desprovida de estafilococos, justamente a parte que estava cercada pelo mofo Penicillium. Fleming havia descoberto a penicilina, primeira droga capaz de curar inúmeras infecções bacterianas.

Galvani
Em seus estudos, dissecando rãs em uma mesa enquanto conduzia experimentos com eletricidade estática, um dos assistentes de Galvani tocou em um nervo ciático de uma rã com um escalpelo metálico, o que produziu uma reação muscular na região tocada sempre que eram produzidas faíscas em uma máquina elétrostática próxima. Tal observação fez com que Galvani investigasse a relação entre a eletricidade e a animação - ou vida. Por isso é atribuída a Galvani a descoberta da bioeletricidade.
A própria palavra eletricidade vem de um relato do filósofo grego Tales de Mileto: ao se esfregar âmbar com pele de carneiro, observou-se que pedaços de palha eram atraídos pelo âmbar. A palavra eléktron significa âmbar em grego.

É claro que o fato dessas descobertas terem sido acidentais não diminui em nada o mérito de seus descobridores, pois é necessário uma mente criativa e atenta ao mundo a sua volta para aproveitar as serendipity.

Não são os homens que captam as grandes idéias, são as grandes idéias que capturam alguns homens.

1 de mar. de 2008

Isaac Newton

Quando perguntaram a Isaac Asimov quem foi o maior cientista de todos os tempos, ele respondeu que se a pergunta fosse dirigida ao número 2, a disputa seria grande: Einstein, Galileu, Darwin, Pasteur, Rutherford, Bohr, entre muitos outros. “Mas como a pergunta é quem foi o maior, não há problema: Newton foi o maior talento científico que o mundo jamais viu”.
Newton nasceu na Inglaterra, em 1643 e é considerado o pai da física clássica. Com uma personalidade nata cativante, era um porre para os amigos ( se é que os tinha) e um terror para os inimigos. De origem bastante pobre, Newton sequer conheceu a própia mãe e muitos historiadores afirmam que ele morreu virgem. Não que isso tenha alguma relevância em face à sua produção científica.
Era vingativo a acreditava em muitas idéias execradas pela ciência, como o criacionismo e a alquimia. Passou boa parte de sua existência tentando decifrar códigos da bíblia , estudando magia e outras bobagens.
Mas nas poucas páginas em que se dedicou à física, causou uma revolução completa no pensamento humano acerca da natureza.
Em seu túmulo há uma inscrição de autoria da rainha da Inglaterra: " Congratulem-se todos os mortais pela passagem na Terra desse maravilhoso gênio do gênero humano". Agora imagine se ele tivesse dedicado mais do que parcos dez anos à ciência, acho que estaríamos bem mais à frente na compreensão da natureza e em termos tecnólogicos.
Quantos aos seus defeitos, não acho que trazem qualquer mancha em sua reputação de cientista. Afinal pessoas grandes geralmente têm defeitos astronômicos. Além do mais, todos têm mazelas em sua personalidades e nem todos contribuem com algo concreto para humanidade.